Sunday, January 25, 2015

Sonic Youth

Uma loira e uma de cabelo vermelho. Engraçadas, piadas jorrando uma torrente de gargalhadas que refrescavam o dia árido. Elas falavam de novelas, ironizavam os maneirismos dos personagens.
Sem chance. Bonitas.
- Oi. Você gosta de Babes in Toyland?? - a loira, para mim. Estava com uma camisa da banda.
- Gosto! Você também?
- Gosto, mas nunca ouvi. Só que eu sei que eu gosto. Você gosta de Hole, né? Eu amo a Courtney, ela não tem culpa do que aconteceu.
Estávamos em 1995. Sabíamos do que gostávamos, antes de ouvir. Sabíamos também de quem gostávamos. Há vinte anos, ela gostou de mim.
As duas brigaram, semanas depois. Ou parava de falar com ela, ou sentiria a cólera rubra. Fiz a minha escolha, não parar de falar com ninguém. Só ela continuou a falar comigo. Cada dia mais ternamente, ainda que a tristeza a consumisse.
Na foto de uma noite feliz, sorrimos e cantamos Somebody to Shove para nós mesmos, cada um com sua cópia, há milhares de anos e quilômetros de distância.

https://www.youtube.com/watch?v=xvDuATZCY8I

Gif que o Flickr criou com fotos que tirei do show solo do Lee Ranaldo, do Sonic Youth, em show no Mês da Cultura Independente, em São Paulo/SP, em 2015.





Sunday, January 11, 2015

Farsa

O livro repousa na estante.
Na verdade, jaz na estante. Está autografado por Augusto de Campos. Em nome do casal, não apenas dela.
Ele sempre se lembra das acusações de que ele não lia de fato, de que apenas frequentava redes sociais. Então ocorreu-lhe que havia o livro, uma preciosidade, o qual ela jamais mencionava.
Encontram-se, no bate-papo, pois estavam online. Só assim mesmo.
Ele lembra-a sobre o livro. De fato, jamais havia lido-o. Confundiu Haroldo com Augusto - por mais que tivesse veleidades literárias, ela continuava a embaralhar nomes e conceitos, pois havia apenas lido a respeito da maioria dos autores que citava, mas não havia lido-os de fato. De certa forma, os dois se assemelhavam quanto à parca leitura de livros. Ela sequer se lembra que o tinha.
O uso do verbo ter, no passado, é correto neste caso.
O livro, novo, jamais lido, está criando poeira em um sebo.

Sunday, January 04, 2015

A escola da vida não tem formatura

O bedel nos olha com ódio. Um dia o entenderei, mas no momento, ele é apenas um inimigo. Estávamos rindo. Ele tinha razão. Talvez fosse da cara dele – mas não era. Ele parece um presidiário, controlando a ansiedade, no pátio da escola; talvez não tão diferente da cadeia na qual foi trancafiado. Dele, lembro-me com a consideração de um colega de cela tem para com o outro. Ou seja, com consideração alguma, apenas com um ínfimo companheirismo, uma vaga felicidade de saber que agora ele está livre e que, um dia, talvez, também estarei.