Monday, January 29, 2018

Missão cumprida: li 52 livros em 2017

Um ano tem 52 semanas; no fim de 2016 estabeleci como meta para mim mesmo ler um livro por semana em 2017. Consegui, dentro do que estipulei para mim: contei na lista não só livros tradicionais como também livros infantojuvenis e livretos que hoje são tidos como fanzines, mas que são impressos em gráfica e editados como obra literária com unidade. Não contei o que entendo como fanzines de fato, xerocados e anárquicos (foram dois) e revistas catalogadas ou tidas como livros  - uma da Superinteressante sobre a Grécia Antiga e uma antologia chamada Alcateia, editada pela Daniela Pace Devisate em formato artesanal, da qual participei com meu conto Síncope.

1- Devaneios Noturnos,  H.S. Gabell
2 - Devaneios Noturnos II, H.S. Gabell
3 – Sem Vergonha, Paula Tatelbaum
4 – A Invenção de Morel, Adolfo Bioy Casares
5 – O Sangue da Terra, José Carlos Mendes Brandão
6 – O Mundo Inteiro, Liz Garton Scanlon e Marla Frazee
7 – Sensibilidade, Osmar Nonato dos Santos
8 – Pergunte ao Pó, John Fante
9 – O Livro dos Cinco Aneis,  Miyamonto Musashi
10 – Uma História para Érica, Jô Moraes
11 – O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry
12 – Sejamos Todos Feministas, Chimamanda Ngozi Adichie
13 – Da Tranquilidade da Alma e outros ensaios, Sêneca
14 – Contos, Machado de Assis
15 – A Anarquia, Errico Malatesta
16 – Coração Indomável, Daniela Pace
17 – Anticâncer, David Serban-Schreiber
18 – Partilhando a Vida, Andreia Zafariz
19 – Poetize a Liberdade, Letícia Pereira
20 – Bestiário, Julio Cortázar
21 – No País das Fadas, H.G. Wells
22 – O Fabricante de Paisagens, de Fábio Oliveira e Mary Hellen Andrade
23 – Bilhetes Poéticos 3, de Gabriel Souza
24 – Quem Manda na Selva, Dany Wambire e João Timane
25 – As Andorinhas, Paulina Chiziane
26 – O Cão na Margem, Luis Carlos Patraquim
27 – Fogo Preso, Andes Chivangue
28 – Outras Coisas, Clemente Bata
29 – Lavoura Arcaica, Raduan Nassar
30 – O Menino no Espelho, Fernando Sabino
31 – As Aventuras de Ngunga, Pepetela
32 – Cidadela Ardente, Thelma Guedes
33 – Vozes do Retrato, Dalton Trevisan
34 - O Menino do Pijama Listrado, John Boyne
35 – O Poço & Outras Histórias, Mário de Andrade
36 – Ganga Zumba, João Felício dos Santos
37 – Festa no Salão, Sérgio Biscaldi
38 – A Arte da Guerra, Sun Tzu
39 – Os Melhores Contos de Fernando Sabino
40 – O Doente Imaginário, Molière adaptado por Marília Toledo e ilustrado pela Laerte
41 – 80 Graus, Latitude Norte, Júlio Verne
42 – Escrever Sem Doer, Ronald Claver
43 – As Tranças de Bintou, de Syviane A. Diouf e Shane W. Evans
44 – Guia Prático da Nova Ortografia, de Paulo Flávio Ledur
45 – Crônicas, volume 3 do Para Gostar de Ler, com crônicas de Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Fernando Sabino e Carlos Drummond de Andrade (releitura; já havia lido quando criança).
46 – Descanse em Paz, Meu Amor, de Pedro Bandeira
47 – Sessão, Roy David Frankel
48 – Para Brisa, Ni Brisant
49 – Frankestein, Mary Shelley
50 – Legados, Naide Cazali
51 – Uma Experiência de Fé e Política, João Mauro Bernardo
52 – Os Rebeldes: Geração Beat e Anarquismo Místico, Cláudio Willer

Tuesday, January 09, 2018

A Cura

Certa feita caí doente a ponto de preocupar muito minha mãe e meu pai, já calejados com crianças enfermas, o que é bem normal. Tive uma infecção das vias aéreas superiores que os obrigou comprar um aparelho para inalação. Tomados os remédios receitados pelo pediatra, fiquei ótimo, mas houve um efeito colateral inesquecível. Tive alucinações muito vívidas.
Foi talvez a experiência mais psicodélica da minha vida e curiosamente aconteceu com drogas legais e quando eu era criança. Após a inalação, deitei-me na cama dos meus pais. Fiquei de boa por um tempinho, até que vi um clone meu emergir da minha barriga. Foi um nascimento sem sangue, simplesmente um gêmeo originou-se de mim e ergueu-se sobre meu corpo. Só que não parou aí. Outro clone saiu da barriga dele, simplesmente emergiu também. Antes que me desse conta de dizer algo, cópias exatas de mim apareceram por todo o quarto, simplesmente brotaram no ar. Estavam todos com a mesma roupa que eu estava usando, um shorts e uma camiseta cinza do Mickey. Senti que todo o oxigênio estava sendo sugado do cômodo e levantei-me desesperadamente, empurrando meus outros eus. Eles sumiram assim que me movi; enquanto recuperava o fôlego achei que tinha sonhado.
Aquietei-me e deitei-me novamente. Estava muito mole para chamar por alguém de casa. Não deu um minuto e apareceu mais um clone. Mas dessa vez era uma miniatura do tamanho de um boneco do Falcon, popular nos anos oitenta, andando por cima da cômoda. Mas era eu mesmo, com a mesma roupa, numa versão liliputiana. Este pequeno clone era agressivo. Ficou me xingando, o que estava de bom tamanho, perdoem-me o trocadilho infame, pois ao menos era um só. Mas ele foi me irritando tanto me chamando de babaca e berrando outros impropérios gratuitamente que quis dar um jeito nele. Fui pegá-lo e bati a testa na quina da móvel. Ele me encarou um pouco e sumiu. Nessa hora tive certeza que nada daquilo era sonho e que foi tudo alucinação.
Creio que se isso acontecesse hoje em dia ficaria encanado. Mas como era criança, achei tudo ultra divertido. Tirando o susto da falta de ar e a dor momentânea de ter batido a cabeça, findas as duas alucinações, não foi nada muito aterrorizante. Na verdade, visualmente foi fascinante. Virei pro lado e dormi. Nunca mais tive algo assim. Nem comentei nada para meus pais no dia seguinte, já que não me preocupei nem um pouco. Já contei essa história para alguns amigos e agora me dou conta de que deveria ter contado para os adultos o que se passou comigo, afinal há nas bulas os efeitos adversos que advém desses relatos. Mas nem me lembro o nome dos remédios mais, não faço a menor ideia. Deve ser um efeito colateral raríssimo. Tudo bem, boa viagem.
Daniel Souza Luz é jornalista e revisor
Capa do disco The Top, lançado em 1984 pelo The Cure.
Esta crônica foi publicada no Jornal da Cidade (Poços de Caldas/MG) em seis de janeiro de 2018; era inédita e esta versão é idêntica, não a reescrevi ou precisei corrigi-la ao revisá-la. Embora não mencione e não seja inspirada na banda, o título é uma homenagem ao The Cure.