Friday, December 01, 2023

Subnotas 35 Homenagem para meu pai, Daniel da Luz

Réquiem

Hoje faz quatro anos que meu pai faleceu, após uma luta renhida contra um tipo raro de câncer. Daniel da Luz era um homem loquaz, que gostava de contar vantagens, mentiras e causos. Para manter a memória dele viva, essa coluna é toda em homenagem a ele. Faz sentido uma coluna de humor político falar dele, afinal ele era engraçado e foi filiado ao PDT, PMDB e MDB, partidos pelos quais foi tesoureiro e candidato a vereador. Não herdei o carisma e o humor dele; bem, não sou tão hilário quanto, mas algo disso herdei, vai. 

Politicamente incorreto

Ressalto sempre que odeio esse termo tanto quanto a expressão politicamente correto. O mundo não só tem muitos tons de cinza entre ambos como também uma infinidade de cores. Entretanto, acho que poucos termos definem tão bem como meu pai era. Era politicamente incorreto a ponto de ser constrangedor para todos a sua volta, mas geralmente ele não estava nem aí. De forma geral, as pessoas que conviveram com ele estavam acostumadas com as infâmias. Se não se acostumassem, iriam se chocar e se afastar em minutos. Muito do que ele dizia é impublicável, mas vou publicar algumas das tiradas dele abaixo. Se quiser continuar a leitura de agora em diante, problema seu. Eu avisei. De qualquer forma, são as mais levinhas.

Carnaval de verdade

O comentário dele que julgo mais engraçado a respeito da política local foi, salvo engano, em 2016. Ele era muito crítico da gestão do ex-prefeito Eloísio do Carmo Lourenço. Eu não partilhava da maioria das opiniões dele a respeito, até porque as críticas que eu tinha eram outras, mas isso não vem ao caso. Para meu pai, o ápice da ruindade foi quando ele ficou sabendo do Carnabebê. Ele julgava isso um absurdo. "É por isso que ninguém mais curte carnaval em Poços. Que Carnabebê o quê! Carnaval não é para família. Carnaval bom de verdade é quando saem dois ou três esfaqueados da festa!", exclamou, indignado. Talvez tenha sido o dia que ele mais me fez gargalhar.  

Súcia

Em 1996 eu estudava na Unesp, em Bauru, e vim passar um final de semana em casa. Fiquei chocado: estava cheia de colantes da candidatura do Paulo Tadeu à prefeitura. O choque foi porque à época meu pai havia se tornado muito conservador e de repente a casa estava com adesivos do candidato do PT na janela. O PMDB estava apoiando Paulo Tadeu e, portanto, também meu pai. Passados o susto e a eleição, ele sempre propagou que ela foi roubada pela corriola dos coronéis. Aprendi essa palavra, corriola, com ele. Melhor xingamento que conheço. E noto agora que ele evitava fulanizar a questão, afinal ele gostava do Geraldo Thadeu pessoalmente. 

Pachequice

Por influência do ex-vereador Waldemar Lemes Filho e do falecido Mané Renda, ambos amigos e correligionários, meu pai votou em Rodrigo Pacheco para deputado federal em 2014. À época o presidente do Senado, que faz jus ao personagem homônimo de Eça de Queirós, era filiado ao PMDB. Ele nunca cumpriu a promessa de visitar Poços e bandeou-se para outro partido. Meu pai lamentava muito esse voto dado a Pacheco, que ele considerava um grande (expressão limada a conselho do meu advogado). 

Daniel Souza Luz é revisor, escritor e jornalista

Foto que tirei do meu pai, na Câmara Municipal de Poços de Caldas, votando em eleições internas do PMDB em dois de dezembro de 2017. À direita dele o ex-vereador Waldemar Antônio Lemes Filho. 


VERSÃO EDITADA PARA O JORNAL

Esta versão não passou por qualquer tipo de censura ou algo assim. O problema é que o texto original estava muito extenso para o espaço da minha coluna e tive que condensá-lo. Esta versão editada foi publicada na página 9 da edição 8132 do Jornal da Cidade (de Poços de Caldas/MG) em primeiro de dezembro de 2023.

RÉQUIEM

Hoje faz quatro anos que meu pai faleceu, após luta renhida contra um tipo raro de câncer. Daniel da Luz era um homem loquaz, que gostava de contar vantagem e mentiras. Para manter a memória dele viva, essa coluna é toda em homenagem a ele. Faz sentido uma coluna de humor político falar dele, afinal ele era hilário e foi filiado ao PDT, PMDB e MDB.

POLITICAMENTE INCORRETO

Ressalto sempre que odeio esse termo. Entretanto, acho que poucas expressões definem tão bem como meu pai era. Muito do que ele dizia é impublicável, mas vou publicar algumas das tiradas dele abaixo. Se quiser continuar a leitura de agora em diante, problema seu. Eu avisei.

CARNAVAL DE VERDADE

O comentário dele que julgo mais engraçado a respeito da política local foi, salvo engano, em 2016. Ele era muito crítico da gestão do ex-prefeito Eloísio do Carmo Lourenço. Para meu pai, o ápice da ruindade foi quando ele ficou sabendo do Carnabebê. Ele julgava isso um absurdo. "É por isso que ninguém mais curte carnaval em Poços. Que Carnabebê o quê! Carnaval não é para família. Carnaval bom de verdade é quando saem dois ou três esfaqueados da festa!", exclamou, indignado. Talvez tenha sido o dia que ele mais me fez gargalhar.  

SÚCIA

Em 1996 fiquei chocado: a casa estava cheia de colantes da candidatura do Paulo Tadeu à prefeitura. O choque foi porque à época meu pai havia se tornado muito conservador e de repente havia adesivos do candidato do PT na janela. O PMDB apoiou Paulo Tadeu e, portanto, também meu pai. Passados o susto e a eleição, ele sempre propagou que ela foi roubada pela corriola dos coronéis. Aprendi essa palavra, corriola, com ele. Melhor xingamento que conheço. E noto agora que ele evitava fulanizar a questão, afinal ele gostava do Geraldo Thadeu pessoalmente.

PACHEQUICE

Por influência do ex-vereador Waldemar Lemes Filho e do falecido Mané Renda, ambos amigos e correligionários, meu pai votou em Rodrigo Pacheco para deputado federal em 2014. À época o presidente do Senado, que faz jus ao personagem homônimo de Eça de Queirós, era filiado ao PMDB. Ele nunca cumpriu a promessa de visitar Poços e bandeou-se para outro partido. Meu pai lamentava muito esse voto dado a Pacheco, que ele considerava um grande (expressão limada a conselho do meu advogado). 

Daniel Souza Luz é revisor, escritor e jornalista