Monday, March 27, 2017

The Passage, uma brevíssima crônica.

Brincávamos de esconde-esconde. Dentro de casa. Já estávamos até meio grandinhos para um espaço tão exíguo. A ideia foi dela. Fui me esconder atrás de um armário. Ela resolveu se esconder junto. Estava bem apertadinho.
Foi de caso pensado. Ela se aconchegou a mim. Meu primeiro beijo de língua. Com um sabor de algo escondido. Literalmente. Não me lembro se fomos flagrados na brincadeira. No que interessava, não fomos.

Monday, March 13, 2017

Jesus and Mary Chain, uma crônica sobre como foi se apaixonar pela banda nos anos oitenta

Muitas bandas, mas muitas mesmo, passei a gostar ao ler sobre elas, muito antes de ouvi-las. Anos antes. Isso aconteceu comigo e vários amigos meus. Anos oitenta, baby.

Não me esqueço da primeira vez em que li sobre o Jesus. Estava esperando meu pai no antigo escritório dele, eu era criança ou adolescente. O problema é que agora a lembrança não é tão exata. Mas do texto me lembro bem da frase que marcou. Não é a citação literal, mas o crítico dizia “Este disco do Jesus and Mary Chain é um tiro do Magnum 45 na cabeça de quem diz que o rock inglês está morto”. Estava em uma Folha de S. Paulo, salvo engano, que estava dando bobeira ali na sala de espera. Será que foi na época do Psychocandy, quando eu tinha 11 anos, ou do Darklands, quando eu já tinha 13? De quem será o texto? Há muito tempo tenho para mim mesmo que, pelo estilão, é o tão amado e odiado Pepe Escobar.

Guardei bem o nome da banda. Depois disso, uma amiga de infância, a Cláudia Cândida, levou uma Bizz Letras Traduzidas para casa. Ela a esqueceu lá e fiquei fascinado. Pedi para que ela deixasse comigo mais um tempo para eu ler todas as letras; ela me deu a revista, o que foi muito bacana da parte dela. E lá estava uma letra do Jesus and Mary Chain, Darklands, faixa-título do disco de 1988.

Nunca tinha visto tanto niilismo e desesperança. Ainda não conhecia as letras do Ian Curtis. Fiquei boquiaberto, em especial com o final, que me pareceu mais irônico do que amargo. Foi paixão à primeira leitura. Decorei a letra muito antes de realmente ouvir a música; na verdade, antes mesmo de ouvir o que quer que fosse da banda.

Fiquei um tiquinho decepcionado a primeira vez que consegui escutar. Amo Just Like Honey, mas pelo o que lia deles, pensava que fosse mais barulhento, e foi justo a primeira música deles que ouvi. Perto de Bauhaus, que escutava muito à época, achei muito contido. Só tinha acesso via clipes que passavam no Som Pop na TV Cultura. Mas meu irmão ganhou de uma menina que era apaixonada por ele, em 1990, uma coletânea em vinil chamada Skate Surf Music; tinha uma música deles, Surfin’ USA, versão esporrenta de um som do Beach Boys que eu já conhecia, aí sim gostei. Nem lembro mais onde e quando que ouvi Darklands pela primeira vez. Mas a música fazia jus à letra, felizmente.  

 
 

Friday, March 10, 2017

The Slits, um miniconto.

As típicas garotas com quem sonhei quando adolescente só as conheci quando era novo ou velho demais para elas. Ainda bem que houve algumas poucas exceções aos vinte e poucos anos.

Thursday, March 02, 2017

Einstürzende Neubauten, crônica com um título literal.

Eram com estéticas iguais, mas como disposições diferentes, de acordo com a topografia da rua. Ambos divididos em dois blocos, um era perpendicular à rua, o outro era paralelo.  O uso do verbo no passado não está correto. Eram não, ainda são. Edifícios Alfa e Beta. Na minha memória, no entanto, eram.
Morei, quando criança, no Beta. Na verdade, de recém-nascido até o fim da adolescência e começo da vida adulta. De 1974 a 1993. Vi várias fases nele. De quando havia árvores na rua. Quando foram arrancadas. Quando era pintado. Era branco com detalhes verdes. Mudaram completamente a cor hoje, é bege. Não gostei. Talvez melhor do que quando a pintura ia ficando descascada, antigamente. E as grades brancas enferrujadas. Mas prefiro lembrar delas assim. Primeiro baixas, depois altas. Hoje há um portão que impedindo a entrada de não moradores. Antes a entrada para a escada que dá acesso aos apartamentos era livre, apenas um portão interno deveria ser fechado à noite, por volta das 22:00 – lembro-me de meus pais fechando-o. Até pouco tempo ainda podia-se entrar livremente lá, de dia. Fui até a porta do apartamento onde passei a infância, o número 101, em 2013. Não bati nas portas (são duas) para saber quem mora lá ou como ele está por dentro. Vivo sonhando com ele, tal como era, ou surrealmente modificado. Prefiro assim, que o apê permaneça como lembrança e como um ente onírico.