Monday, March 13, 2017

Jesus and Mary Chain, uma crônica sobre como foi se apaixonar pela banda nos anos oitenta

Muitas bandas, mas muitas mesmo, passei a gostar ao ler sobre elas, muito antes de ouvi-las. Anos antes. Isso aconteceu comigo e vários amigos meus. Anos oitenta, baby.

Não me esqueço da primeira vez em que li sobre o Jesus. Estava esperando meu pai no antigo escritório dele, eu era criança ou adolescente. O problema é que agora a lembrança não é tão exata. Mas do texto me lembro bem da frase que marcou. Não é a citação literal, mas o crítico dizia “Este disco do Jesus and Mary Chain é um tiro do Magnum 45 na cabeça de quem diz que o rock inglês está morto”. Estava em uma Folha de S. Paulo, salvo engano, que estava dando bobeira ali na sala de espera. Será que foi na época do Psychocandy, quando eu tinha 11 anos, ou do Darklands, quando eu já tinha 13? De quem será o texto? Há muito tempo tenho para mim mesmo que, pelo estilão, é o tão amado e odiado Pepe Escobar.

Guardei bem o nome da banda. Depois disso, uma amiga de infância, a Cláudia Cândida, levou uma Bizz Letras Traduzidas para casa. Ela a esqueceu lá e fiquei fascinado. Pedi para que ela deixasse comigo mais um tempo para eu ler todas as letras; ela me deu a revista, o que foi muito bacana da parte dela. E lá estava uma letra do Jesus and Mary Chain, Darklands, faixa-título do disco de 1988.

Nunca tinha visto tanto niilismo e desesperança. Ainda não conhecia as letras do Ian Curtis. Fiquei boquiaberto, em especial com o final, que me pareceu mais irônico do que amargo. Foi paixão à primeira leitura. Decorei a letra muito antes de realmente ouvir a música; na verdade, antes mesmo de ouvir o que quer que fosse da banda.

Fiquei um tiquinho decepcionado a primeira vez que consegui escutar. Amo Just Like Honey, mas pelo o que lia deles, pensava que fosse mais barulhento, e foi justo a primeira música deles que ouvi. Perto de Bauhaus, que escutava muito à época, achei muito contido. Só tinha acesso via clipes que passavam no Som Pop na TV Cultura. Mas meu irmão ganhou de uma menina que era apaixonada por ele, em 1990, uma coletânea em vinil chamada Skate Surf Music; tinha uma música deles, Surfin’ USA, versão esporrenta de um som do Beach Boys que eu já conhecia, aí sim gostei. Nem lembro mais onde e quando que ouvi Darklands pela primeira vez. Mas a música fazia jus à letra, felizmente.  

 
 

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