Monday, May 12, 2008

Detestável

Todos pararam de ligar para Jonathan depois que ele agarrou bestialmente a Melina diante de todos, inclusive de Nando. E ele nem estava bêbado para se justificar. Apenas andava parecendo quase moribundo naqueles dias, mas todos já haviam se acostumado com a sua mudança. Desde que se tornou taciturno tornou-se uma companhia mais agradável, pois era uma mala do caralho, só suportado porque era namorado da Guta. Ela o abandonou e passou a andar com outra galera, deixando-o como um legado maldito. Ele passou a fazer boas piadas e a ficar na dele, mas todos só se ligaram que ele era um estorvo quando, transtornado, ele se jogou sobre ela como uma hiena que não tem a menor chance de abocanhar a presa do leão.

Ela socou tão fortemente o orangotango que dispensou Nando de qualquer outra participação, mas mesmo assim todos o tiveram que o segurar, dado o seu tamanho oriundo do uso de bombas; com exceção do Fraldinha, que empurrou Jonathan para fora do bar, pois ele ainda teve a pachorra de tentar acertar uns chutes em Nando. Quando finalmente Nando se acalmou, ele ameaçou sair correndo atrás de Jonathan e só não alcançou seu intento porque Melina o segurou pela juba, fazendo um esforço sobre-humano para manter o chumaço de cabelos na mão, enquanto todos estavam sem reação, estupefatos. O Fralda conseguiu enfiar Jonathan dentro do seu carro e deixou-o em casa após levá-lo calado. Ambos em silêncio. Jonathan apenas murmurou algo sobre amá-la desde há muito. Não houve resposta.

Era mentira. Só, deprimido e sentido que era apenas tolerado por estranhos que eram como amigos postiços, ele se apaixonou repentinamente pela única mulher que realmente o tratava bem. Brutal, intenso e explícito, assim que deveria ser, na sua acepção.

Isso foi na sexta. O final de semana inteiro passou enfurnado dentro de casa, limpando as feridas psíquicas e os cortes na boca, pois Fralda também lhe deu uns tapas na cara, de mão cheia e sem qualquer consideração. Ninguém lhe perguntou suas motivações. É como se todo o desprezo que sempre sentiram por ele finalmente tivesse uma oportunidade de aflorar. Sua única amiga de verdade, ele pensava assim, como um adolescente, era Laura. Ela mudou-se e seus telefones estavam cortados, tanto o fixo como celular. Típico dela, uma duranga. Na faculdade, no sábado de manhã, disseram que ela estava viajando.

Não conseguia conversar com os pais, joguete que era nas brigas deles. Passou o domingo jogando videogame. À noite ligou para Guta. É, estou sabendo de tudo, você não passa de um filho da puta mesmo, só tendo a auto-estima lá embaixo que nem eu tinha para te namorar. Bateu na cara. De novo, pois é.

Segunda de manhã, viu chegando pela janela o ônibus com o qual ia trabalhar. Decidiu que não ia perdê-lo. Calculou bem e jogou-se em cima dele, mas acertou o moto-taxista que vinha logo atrás. Assassino ao morrer, não teve boas manchetes e foi enterrado pelos pais, alguns poucos parentes e por Guta, isso ele gostaria de saber.

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