Monday, August 22, 2016

Front 242, uma crônica

Estive afastado de computadores por pouco mais de um mês. Hoje voltei a escrever contos e crônicas.

O futuro, nos estertores dos anos 1980, era o som do Front 242. Nada soava mais cyberpunk e eu nem sabia a existência dessa palavra. Era uma banda belga que se tornou referência do que parecia-nos vanguarda europeia da época, embora nem seja tão vanguardista quanto as bandas realmente industriais que existiam antes. O barulho que fecha uma das suas músicas relativamente populares à época, Masterhit, indicava o que Ministry e Nine Inch Nails fariam depois, mas de forma mais sintetizada, não soando vagamente analógico. Aquele barulho disforme sugeria que o futuro seria desolador, perigoso e sombrio; em especial, se não se preparássemos a mente para lidar com alta tecnologia e o corpo para fugir de ameaças sutis. Um vídeo em especial, em que um anãozinho pilotava um mini-helicóptero que invadia um galpão onde estavam os integrantes, parecia um prenúncio sinistro.
Em meados dos anos noventa estava assistindo o Lado B da MTV com meu irmão e revimos esse vídeo. Ficamos tão decepcionados... Era farsesco, cordas eram visíveis levantando os integrantes, que pareciam tão desesperados quando vimos pela primeira vez, o helicóptero parecia um brinquedo malfeito. Era cômico, mas não era engraçado. Front 242, então, já soava como passado embolorado. Estranho recordar disso tudo em 2016. Vinil voltou a ser algo que caracteriza essa época. Drones genocidas na Ásia talvez prenunciem mini-helicópteros nos quais uma pessoa pode entrar na sua casa e te liquidar. Front 242 foi usado como base musical até pelo Bonde do Tigrão, na popularização do funk carioca. Era o som do futuro sim e ele já chegou; é desolador e perigoso, mas ensolarado.

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