Tuesday, November 22, 2016

PIL, uma crônica.

Sex Pistols era uma das minhas bandas favoritas no fim dos anos oitenta, talvez então fosse “A” favorita. Às vezes lia sobre o Public Image Limited, o PIL, o grupo que John Lydon montou logo depois da dissolução dos Pistols em 1978, abandonando o nome Johnny Rotten, mas só podia imaginar como era o som. Quando ouvi pela primeira vez, logo percebi a diferença fundamental do pós punk para o punk: eu ouvia nitidamente o baixo de Jah Wobble, era outra pegada, embora próxima. Na verdade, já conhecia a banda de um vídeo, gravado pelo meu amigo Maurício, do programa Vibração, que falava surf e às vezes de skate. Era uma reportagem mostrando como foram as demos de Tony Hawk e Lance Mountain nas pistas de skate do Brasil; uma das músicas do vídeo era Fodderstompf. Eu e meu irmão adorávamos o “rap” que mandavam em cima de uma base eletrofunk, uma falação no qual distinguíamos apenas que estavam ironizando, em meio ao pouco que sabíamos de inglês, o “amor estúpido”. No entanto, não fazíamos ideia de que banda era, não havia identificação das músicas e só conhecíamos o Sisters of Mercy na trilha sonora.
A primeira vez que me dei conta de que estava ouvindo o PIL foi emocionante: no programa Matéria Prima, apresentado por Serginho Groisman na TV Cultura na virada dos anos oitenta para os noventa. Durante o encerramento, tocou uma música na qual logo reconheci o vocal de Lydon, mas o timbre da guitarra era muito diferente da de Steve Jones e tão brilhante quanto. Em especial, consegui ouvir o baixo, algo que tentava fazer nas músicas dos Pistols e não conhecia reconhecer nada debaixo daquelas camadas superpostas de guitarras – só depois de começar a fazer aula de baixo que distingui o pálido som de base feito, reza a lenda, pelo próprio Jones, pois Sid Vicious não conseguia gravar adequadamente. A música do PIL que rolou no Matéria Prima era Public Image, descobri ao conseguir gravar o disco ao pegar emprestado com um amigo, creio que no final daquele ano ou em 1991; antes, como não tinha acesso, aproveite-me de uma particularidade da minha cidade natal. Assistia ao Matéria Prima na TV Cultura; ao final de todo programa tocava uma música diferente. Como outra emissora “educativa” iria se instalar no município em 1990, começaram a transmitir o sinal carioca da TVE. Sei lá porque cargas d’água, sempre que acabava o programa a TVE cortava o sinal ao vivo e passavam o final daquele Matéria Prima em que tocava Public Image quase na íntegra. Era o único jeito, para mim, de ouvir PIL à época. Toda tarde, sem exceção, assistia ao programa na TV Cultura e depois trocava de canal para escutar minha amada música no final “alternativo” inventado pela TVE.
Minha velha e querida fitinha cassete do PIL, já com mais de um quarto de século e ainda funcionando.

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