Tuesday, September 05, 2017

Televisão, crônica de uma infância cheia de fascínio

Esta crônica é uma versão ampliada de "Television, crônica de uma infância cheia de fascínio" que publiquei no blog em 16 de janeiro de 2017. O título original é uma homenagem à banda protopunk de mesmo nome e a primeira frase é uma citação explícita à música homônima do Titãs. A versão abaixo, com o título aportuguesado, foi publicada no Jornal da Cidade, Poços de Caldas, em dois de setembro de 2017.

A televisão me deixou inteligente, muito inteligente demais. Acordava cedinho no sábado só para ver desenho animado. Antes das oito da manhã ainda dava tempo de assistir Urso do Cabelo Duro e Bionicão. Tenho vagas recordações, pois isso foi há mais de trinta anos, mas me parece irônico e cômico que o primeiro desenho retrate um bando de hippies safos travestidos de ursos e o segundo um cão policial. Como nunca havia pensado nisso? Às vezes rolavam uns crossovers nos desenhos; ainda bem que nunca puseram o Bionicão para reprimir a turma dos ursos, afinal eles eram espertinhos, mas não malandros.
O que era legal demais nesses desenhos é que eles eram psicodélicos, pois eram dos anos sessenta e setenta, mas ainda passavam nos anos oitenta. Os Incríveis era infinitamente mais bacana do que a banda de mesmo nome. Banana Split devia ter ácido nos ingredientes. Jackson Five era tão massa quanto o grupo mirim do Michael Jackson e seus irmãos. A Corrida Espacial fazia discotecas parecerem baladas com viagens boas; apesar de já ser da era disco, o psicodelismo era muito mais mesmerizante. Dias de aventura.  Não esqueço de jeito nenhum das pouquíssimas vezes em que passou o desenho do Recruta Zero, que era um dos meus gibis favoritos. E de que tinha que explicar para os incautos que Danger Mouse não só não era a mesma coisa como também era infinitamente mais legal do que Super Mouse.
Aprendi a ler graças a meu pai, que lia quadrinhos para mim e meu irmão; por isso antes mesmo de entrar na escola conseguia ler alguns trechos, pois queria saber logo como terminavam as histórias que ele não tinha tempo de acabar de ler. Saquei os rudimentos sozinho. Quando lia os créditos nos desenhos animados, mesmo sem saber inglês, notei que havia quem escrevia aquelas histórias e dava vontade de ser um daqueles caras. Como desejar ter um emprego normal se você pode imaginar e escrever as peripécias do Johnny Quest?
Imagem de divulgação do super legal desenho do Jackson Five.

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