Sunday, May 17, 2015

Eterno Despertar Finito

Após uns três anos, finalmente tive um sonho lúcido novamente. Não dormi bem, acordei algumas vezes ao longo da noite, ainda que estivesse frio – geralmente durmo sem interrupções se a noite é fria e silenciosa. Na penúltima delas, acho, pouco antes de acordar, estava andando no quintal do prédio onde morei na infância. Quando comecei a descer a escada que leva a um patamar inferior do quintal – uma escada estreita, íngreme e de cimento mal-acabado, muito bem representada no meu sonho – eu me toquei que estava na verdade sonhando.
Aí pensei comigo mesmo: nossa, estava falando sobre voar em sonhos tempos atrás com a Renata – uma grande amiga. Como disse para ela, quase sempre quando sonho, começo a bater os braços, como um pássaro bate as asas, para voar. Geralmente, depois que levanto voo, não preciso continuar batendo os braços, basta continuar voando, com os braços estendidos ou não. No sonho, conscientemente, decidi sair voando sem esforço. Deu certo! Sobrevoei o quintal da minha infância por alguns segundos. Não preciso sequer ir lá fazer uma visita algum dia, nada se compara a emoção de voar.
Acordei e pensei: preciso contar esse sonho para ela. O quarto estava na penumbra. Alguém começou a puxar o lençol e eu fui indo junto, para debaixo do cobertor, lentamente. Fiquei imaginando se não poderia ser a Yasmin, minha cachorrona. Mas ela não seria forte o suficiente... Então acordei de fato! Fiquei assustado, como sempre acontece nessas ocasiões. Pela primeira vez na vida, tive os dois tipos de sonhos lúcidos juntos: no primeiro, eu controlo o sonho. No segundo, como no primeiro número do Sandman de Neil Gaiman, eu desperto, acho que estou acordado, tudo é bem real, mas não estou acordado e desperto de verdade, completamente desacorçoado! Como pela primeira vez tive os dois tipos de sonhos na mesma noite, e na sequência, meu coração disparou tão fortemente que não conseguia voltar a dormir por um bom tempo, embora não tenha sido exatamente um pesadelo, pois a sensação de ser puxado junto com o lençol não me aterrorizou durante o sonho, pelo contrário, pareceu-me uma brincadeira e a sensação tátil de ser arrastada pelo lençol era até mesmo gostosa, como se ajudasse a me cobrir para me esquentar e dormir melhor. Estava me deixando levar.
Aproximadamente uma hora depois, consegui voltar a dormir, lá pelas seis da manhã. Desejando ter outro sonho lúcido. Não tive.

Sandman sentenciando quem lhe mantinha cativo ao Eterno Despertar. Arte de Sam Kieth, Mike Drigenberg e Robbie Busch.

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