Monday, May 16, 2016

Titãs, crônica de um show perdido e de dois reencontros

Eu quase vi um show do Titãs, ainda com todos eles. Foi no fim dos anos oitenta, em 1989 ou 1990.
Deve ter sido em 1990. Eu já tinha perdido um show do Legião Urbana naquele ano. Precisava de autorização dos meus pais para entrar, meus eles não havia permitido. Falaram que era coisa de drogado. E o show deu rolo, o Renato Russo passou mal, correram boatos que seriam porque ele estava chapado demais – pelo o que me lembro da matéria da afiliada local da Globo na época, no entanto, foi uma mera intoxicação alimentar. Ainda havia muito histerismo por parte de professores e pais em relação ao rock nacional, por mais ridículo que hoje isso pareça. Anos antes, quando o RPM fez show na minha cidade, a professora de Ciências, de quem eu gostava, havia falado em sala de aula que não éramos para irmos ao show, porque Paulo Ricardo e companhia seriam todos uns drogados. Não me lembro com muita certeza de outro detalhe, mas acho que ela teria passado uma lista sobre isso para levarmos para nossos pais. A única certeza que tenho é esse discurso dela para nós, pobres alunos inocentes, que iríamos danar nossas vidas indo ao show do RPM. Eu meio que queria ir, mas nem fiz muita força, eu era novo demais, isso aí deve ter sido em 1987 – ainda bem que não fui, imagina que tristeza se o primeiro show da minha vida fosse do RPM?
O show do Legião Urbana na minha cidade, Poços de Caldas, foi em 1990, tenho certeza. Mas parece que o do Titãs foi antes, em 1989... Não lembro bem. O que eu lembro foi de uma ideia que parecia genial. Nós poderíamos ir ao show, meus pais haviam deixado, íamos comprar os ingressos na porta do ginásio onde ele ocorreria. Antes, durante a semana, nosso amigo Evandro, mais conhecido como Bugu, havia dado a ideia de fazermos as Olímpiadas da rua. Nós compramos medalhinhas numa loja de esportes e combinamos de fazermos as Olímpiadas no sábado, durante todo o dia.
De manhãzinha, fomos para o Parque Municipal. Havíamos comprados bastante medalhas. Fizemos todas as corridas possíveis: cem, duzentos, quatrocentos e oitocentos metros. Na pista de corrida do parque até hoje tem a marcação da metragem. Lembro que ganhei as corridas curtas, de cem e duzentos metros, disparado. Nas outras eu já não tinha fôlego.
Ao longo do dia, fomos “inventando” as modalidades possíveis. Lançamento de dardos (galhos de árvores), de peso (pedras), futebol, handebol (com bola de futebol mesmo, ou de meia, não lembro bem) e outros esportes olímpicos. Não valia skate e bike; natação não tinha jeito; apesar da piscina do Country Club ao lado, não éramos sócios. Havia gente suficiente para esportes coletivos, mas não lembro mais toda a galera do bairro que participou. Lembro dos amigos mais próximos, com quem voltei a pé para casa: Evandro, Márcio, Paulo Augusto e meu irmão Eurico. Lembro muito bem, porque foi um evento trágico para mim.
Voltávamos quando já era de noitinha, de tantas competições que inventamos – tínhamos muitas medalhinhas para distribuir, como já havia dito. Lembro que no caminho encontramos a irmã do Paula, a Ana Karla, também uma grande amiga. Ela estava com algumas amigas e elas nos disseram que estavam indo para o show do Titãs a pé – não era tão longe assim. Quer dizer, longe era, era um pertinho de mineiro, mas era no fim da avenida, uns dois quilômetros adiante. Eu achei estranho, era cedo demais para ir ao show. Chegando em  casa, tomei uma chuveirada. Encostei um pouco na minha cama para ler um Chiclete com Banana e... dormi. Dormi desmaiado. Exaurido. Acordei no dia seguinte, sem show. Não éramos os titãs que julgávamos que fôssemos. Fiquei tão puto que joguei todas as minhas medalhinhas fora. Quando encontrei o Evandro depois o xinguei pra caramba, coitado.
Eu vi os Titãs em 2015, finalmente. Desprezei-os completamente ao longo dos anos noventa e na primeira década dos anos 2000. Mas era ruim mesmo, pseudo-grunge e depois populistas populares, não era por causa do “trauma” do show perdido. Não me arrependo. Quando os reencontrei, já pela metade, num show da Virada Cultural no Largo da Estação em São João da Boa Vista, eu estava inteiro, apesar dos anos. Fui com minha amiga Danília, gente finíssima, que havia reencontrado depois de quase um par de anos nos quais ela estava morando na Nova Zelândia e para onde ela retornou pouco depois. Tanto o show perdido quanto o que vi são memórias boas, para acalentar. Melhor assim.

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