Monday, January 16, 2017

Television, uma crônica de uma infância cheia de fascínio.

A televisão me deixou muito inteligente, inteligente demais. Acordava cedinho no sábado só para ver desenho animado. Antes das oito da manhã ainda dava tempo de assistir Urso do Cabelo Duro e Bionicão. Tenho vagas recordações, mesmo agora já adulto, pois até isso foi há mais de vinte anos, mas agora me parece irônico que o primeiro desenho retrate um bando de hippies safos travestidos de ursos e o segundo um cão policial – acho que era, já nem lembro tão bem. Como nunca havia pensado nisso? Às vezes rolavam uns crossovers nos desenhos; poderiam ter posto o Bionicão para reprimir a turma dos ursos para dar a real para as crianças.
O que era legal demais desses desenhos é que eles eram psicodélicos. Os Incríveis era infinitamente mais legal do que a banda de mesmo nome. Banana Split devia ter ácido nos ingredientes. Jackson Five era tão legal quanto a banda. A Corrida Espacial fazia discotecas parecerem good trips; apesar de já ser da era disco, o psicodelismo era muito mais mesmerizante. Dias de aventura.  Não esqueço de jeito nenhum das pouquíssimas vezes em que passou o desenho do Recruta Zero, que era um dos meus gibis favoritos. E de que tinha que explicar que Danger Mouse era infinitamente mais legal do que Super Mouse. Aprendi a ler graças a meu pai, que lia quadrinhos para mim e meu irmão; por isso antes mesmo de entrar na escola queria saber como terminavam outras histórias que meu pai não tinha tempo de ler. Saquei os rudimentos sozinho. Quando lia os créditos nos desenhos animados, mesmo sem saber inglês, notei que havia quem escrevia aquelas histórias. Como desejar ter um emprego normal então?

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