Sunday, September 28, 2008

Não foi por querer

Era deliberado. Não tinha graça, mas ele ria e tentava contaminar todos com as gargalhadas forçadas, só que ninguém o levava a sério (mesmo que isso pareça paradoxal). Ele achava que o pessoal me protegia, pois eu não participava das brincadeiras do escritório, no entanto acho que era por isso mesmo que me respeitavam: eu não zoava ninguém.
Isso só aumentava o despeito do sujeito. Ninguém tinha que ser intocável, na visão dele. Óbvio que ele estava certo, mas não dou a mínima para isso, principalmente quando eu sou o alvo em potencial. Como ele era o saco de pancadas, era como se o grande trunfo que ele poderia alcançar seria justamente deixar de ser o foco das atenções negativas empurrando-me para o picadeiro corporativo que ele ocupava.
A voz dos “ataques preventivos” era muito engraçada. Ele falava com voz de choro, sempre; um velhinho moribundo gemendo enquanto pedia compaixão. A insegurança era patente. No entanto, em situações em que procurava encaixar alguém em algum estereótipo, sua emissão vocal era forte como a de um barítono. Com o passar do tempo, notaram o que eu havia percebido há meses. Mantive-me quieto este tempo todo, mas quando o fato tornou-se notório, passaram o dia inteiro fingido que estavam zoando um aos outros com aquela voz sem noção – e às vezes até tripudiavam uns aos outros mesmo. Ele, no entanto, foi particularmente detonado. Dizem que pegou o ônibus chorando.

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