Sunday, September 21, 2008

Quarta-feira, cinco e meia da manhã

- Estanque o sangramento.
- Por que você não a leva ao hospital?
- A culpa é sua. Você é o doutor aqui, e eu não quero mais sujeira para o meu lado. Era só não se meter no nosso lance.
- Mas...
- Faça um curativo nela. Você já pegou nos peitos dela antes, vamos lá. Não ouse me dizer que você não tem nada a ver com isso. Anda logo, porque hoje estou a fim de socar quem me encher o saco.
É o mesmo modo ameaçador de sempre. Desde nossa adolescência é assim. O mesmo tom de voz, a mesma frase, o mesmo fedor de álcool, e ainda mais corpulento. Sua pretensão de me fazer seu eterno serviçal vem sendo minada pela minha dedicação ao muay thai, mas resolvo obedecer. Ela me importa, sempre desejei domar aquela insensatez sexual. Quando deslizo a mão em seu pescoço, pressionando a jugular, a pele macia morna, percebo que minhas chances de ser um homem realizado foram extirpadas.
- Deixe-a como está, ela está morta, pode sangrar à vontade.
É curioso notar, machões não passam de crianças mimadas. Logo se desmancham em choro convulsivo e sussurros negatórios. Não há bom senso que explique por que ela o admirava. Ligo para o 190 e saio para dar comida ao gatinho dela, Laerte, que, espero, me ficará de companhia.

28/04/2005 – 21/05/2005

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