Esta resenha foi publicada em 19 de junho de 2021 no Jornal da Cidade (de Poços de Caldas/MG). Havia sido publicada originalmente no Good Reads em dezembro de 2020, mas a atualizei e ampliei para a publicação no jornal.
Confesso
que adoro encontrar obras que parecem ter sido escritas por pessoas que tiveram
filhos, plantaram uma árvore e escreveram um livro só porque há o famoso ditado
que recomenda isso. Apesar de todos os pesares, sempre há pequenas pérolas. Peguei
este livro um pouco antes da pandemia, em Campestre, pequena cidade mineira
vizinha a Poços de Caldas, no consultório do dentista Wilton Serrano, um bom
amigo. Ele disse que era para eu ler e passar pra frente mesmo. Não sei onde
ele encontrou o livro, mas estava até com o convite de lançamento e uma curiosa
dedicatória do autor, um músico carioca a respeito do qual quase não há traços
na internet, na qual ele colou um papel em cima do nome de alguém e
aparentemente dedicou este exemplar a outra pessoa – olhando na contraluz,
minha namorada depois desvendou o segredo: ele havia escrito errado o nome da
pessoa para quem ele autografou este exemplar. Li as poesias no início e me
animei, ainda mais que a capa foi desenhada pelo Chico Caruso e o Millôr fez
ilustrações para o livro. Parece que isso foi em outra vida; quando peguei
realmente para ler o livro, pandemia ainda grassando desgraçadamente no Brasil,
evito até pequenas viagens para cidades vizinhas. Infelizmente o livro não
sustenta as expectativas. Na verdade, é uma coletânea de máximas (isso eu já
sabia); algumas, como diz o editor Marcelo Câmara no prefácio, podem até ser
entendidas como haikais. O problema é que a maioria é banal, não passam de
generalidades, algumas beirando àquele humor misógino típico daquela geração.
Osvaldo Nunes Filho, o pianista que pensava, com certeza era melhor em escrever
partituras. Outra curiosidade é que o exemplar tem um errinho que passou pela
revisão e foi corrigido à caneta pelo próprio autor - é possível reconhecer a
letra. E a edição prejudica algumas das ilustrações do Millôr, distribuindo-as
por duas páginas e dificultando a apreciação delas, devido à dobradura do
livro. De qualquer forma, há algumas tiradas geniais. Um exemplo: "Era um
grande democrata. Estava sempre pronto para dizer seu monólogo". Essa é
bem apropriada para estes dias, embora o livro seja de 2004. Como é uma leitura
rápida, vale a pena, no fim das contas.
Daniel Souza Luz
é escritor, jornalista, professor e revisor
No comments:
Post a Comment