Monday, January 08, 2007

Misantropia

Recebo a notícia no meio da tarde, pelo telefone. O pai da minha cunhada havia falecido. Devia estar consternado, ao menos aparentemente, para oferecer um mínimo de solidariedade. Tudo que sinto é fastio. Talvez minha cara emburrada ajude-me nestas ocasiões nas quais todos têm aquele olhar perdido. Creio que isolo tanto minha mente, pensando no que tenho que fazer e jamais farei enquanto deixo-me vencer pelo imobilismo ritual dos velórios, que irradio a impressão de perda. Interiormente, apenas lamento a perda do meu tempo. Sair do meu canto nestas ocasiões significa dar margens para conversas paliativas que não fazem jus àquele que partiu. Ninguém conversa comigo. Ótimo. Quando deixo o local, pensando que já havia passado do horário do expediente e que estava perdendo minhas parcas horas de lazer, sinto-me mesquinho. Estraguei a minha noite, e mesmo assim culpo o defunto. No dia seguinte, acordo tão pequeno que não tenho coragem de ir ao enterro.

1 comment:

Anonymous said...

Ele sabe de tudo. E vai puxar tua perna esta noite...