Monday, January 08, 2007

Zelo

A idéia tornou-se recorrente. Tudo o que vem acontecendo vem deixando-me mais desgostoso. Nada permanece. A maioria dos meus livros, que guardei com tanto zelo durante todos estes anos, foram roídos por traças, carunchos, sei lá. Trabalhei demais, tornei-me um workaholic ao longo do ano passado. Nem me senti pressionado a fazer isso por patrões ou colegas, mas sentia-me tão angustiado ao chegar no horário certo em casa, com tantos projetos em mente e tão pouco tempo para viabilizá-los, que passei a dar uma de rapaz responsável. Não conseguia escolher um dos meus sonhos para concretizá-los, deixava tudo pela metade. Por acaso, encontro-a na rua. Irritado com o abandono e com tudo o mais, disse o que sempre dizia nas antigas. Que estava com vontade de morrer. “Não fala isso, você é tão novo, tanta gente queria ter sua saúde”, blábláblá. Conhecia a velha ladainha. Desta vez falei com sinceridade. Antes dizia isso para que ela me acalentasse depois do esbregue. Mas todos temos uma imagem a gelar agora. Sim, gelar. Seremos apenas isso, até o fim, porque nossas escolhas foram encerradas, agora temos que vivê-las e não há volta. Ao menos, ela me aquece com um café, mas, enquanto conta-me as travessuras da filha e as nóias do corno que a sustenta, não consigo deixar de pensar de que preferia quando ela se esgueirava debaixo das minhas cobertas para sumir assim que eu adormecia.

1 comment:

Anonymous said...

Seu traça, caruncho, sei lá.