Sunday, January 21, 2007

My War

Usar uma camiseta do Minor Threat não significa mais nada. Antigamente, e quando digo antigamente nem quero dizer tanto tempo assim, avistar alguém com uma camiseta de banda com a qual você se identificasse já atraía a atenção e normalmente se entabulava uma conversa. Dois dos meus melhores amigos conheci deste modo. Não os vejo pessoalmente há uns bons anos. Pelo menos desde o fim dos anos noventa. Antes éramos muito poucos. Hoje, quem sabe o que é, não dá a mínima. Quem não sabe, deve achar que são estampas de grifes que fazem roupas caras para promovê-las em novelas. Ainda bem que nunca tive o desprazer de ver uma global vestindo um agasalho do Bad Brains, ou algo do gênero.
Rendido à tecnologia que disseminou toda essa informação e indiferença, escondo-me em um posto da PM escutando Polícia – das Mercenárias, que fique bem claro – no MP3 Player. A chuva de verão me encharcou a poucos metros do ponto de ônibus. Reconheço um dos PMs que está lá, amigo de infância. Cumprimento sem graça, nem me lembro o nome dele. Na verdade, éramos apenas colegas na escola. Uma menininha entra de repente, já bem mais molhada. É a filha de Luque. Ela sorri imediatamente para mim. Após alguns segundos em que ambos olham para as colunas de águas trazidas pelo vento para fustigar em intervalos regulares as lonas de barraquinhas e lojas, molhando quem se amontoa embaixo delas, ela se vira e fixa a atenção no meu peito. Aponta para ele e diz algo, mas não escuto porque estou com o fone. Surpreendentemente, quando libero os ouvidos, ouço-a chamar pelo nome e perguntar se eu gosto mesmo de Seven Seconds. Tinha me esquecido que a vó costurou este patch para mim no bolso da camisa. Todo mundo achava que era a marca da roupa. Descubro que o nome dela é Rê. Só isso, pelo menos é o que ela diz. Não sei se é invenção dela ou maluquice do Luque, que não a apresentou apropriadamente para mim, no entanto sei que ele era fã do Angeli. Bem, de qualquer forma, ela é bem legal, fala-me sobre novas bandas das quais nunca ouvi falar e pergunta-me sobre shows em que fui, discos que ainda tenho e sobre como era o pai dela. De relance percebo que os policiais, que estavam afastados, olham disfarçadamente para nós e dão risadinhas; pelo jeito estão fazendo comentários sacanas. Por isso que meu colega de infância não é amigo; é um deles, e eles são o que são.

1 comment:

Anonymous said...

Rê, Rê... essa figura ainda vai DAR o que falar! kkk - perco o amigo, mas não perco a piada!