Thursday, January 11, 2007

Racional

Só olhei porque o repentino barulho do saquinho plástico atraiu meu olhar distraído. Justo quando passei pela esquina tinha um gordinho cheirando cola no beco sem saída. Burro, eram oito da noite, horário de verão, ainda estava claro. Sempre achei sossegado andar a pé à noite por aquelas quebradas antes de chegar no conjunto de predinhos onde mora minha mãe. Sempre topo com os manos, passo batido no meio deles, ninguém me enche o saco por eu ser branco, classe média com roupa social. O mais sensato a se fazer, portanto, é andar a pé para fazer exercício e economizar uns trocados da gasolina. Mas justo o gordo de merda se apavorou quando dei de cara com ele. Os moleques que estavam do outro lado da rua começaram a rir e ele ameaçou dar porrada neles. Deve ser o cara que escrotiza a turma. Pela cara, a montanha de banha não tinha mais do que 14 anos. Muito, muito novinho mesmo. Mesmo assim era insalubremente maior do que eu, e depois de ficar baqueado por uns cinco segundos, saiu correndo atrás de mim murmurando meias palavras desconexas. Que imbecil, mesmo sendo um bosta gigante o cara deveria era correr atrás das menininhas, metaforicamente falando é claro, como fazem os moleques mais espertos. Mas claro, puta que o pariu, são os garotos mais velhos que pegam as meninas da idade dele; se para um garoto normal de 14 anos já não rola muita coisa, imagina para um hipopótamo proto-junkie. Caralho, fiquei de cara, minhas pernas bambearam, mas me virei e como não ia correr de uma criança, ainda que fosse uma das mais perigosas, o encarei e ele parou, com uma expressão alucinada. Tinha uma caçamba do lado por sorte e eu já ia pegar uma pedra para inevitavelmente acertá-lo. Como que se pressentisse, ele abriu a porta de uma Hilux - o veículo perfeito dos abonados que não respeitam pedestres e nem ninguém que eles julguem que sejam pobres e portanto dispensáveis - que estava estacionada ao lado e entrou, ficando sentadinho que nem o covarde filho da puta e de papai que ele é. Virei e fui embora sem precaver-me, nem olhei para trás. Dois quarteirões depois deparo com dois casacões do Facção Central tomando uma batida de solícitos homens de bege, que calmamente respondem-me que os elementos apresentavam atitude suspeita.

1 comment:

Anonymous said...

Ah, que merda! Pensei que o hipopótamo junkei ia tomar uma pedrada bem no meio do coco. Violência, quero violência neste blog!!!!